sábado, 22 de agosto de 2009

The Broken Guitar



O seu olhar transmitia ódio, as suas palavras representavam raiva e as suas acções mostravam que estava magoado. Estava ausente de mim, como se fosse eu a razão da sua tristeza. Estava a tornar-se incompreensível aos olhos do mundo mas eu queria entender-lhe. A distância começava a ganhar vida …Era tudo o que eu mais temia, até que um outro ele apareceu.

Parecia aparentemente perfeito. Alto, calças justas e pretas, aquelas pulseiras cheias de picos, ténis All Star, e um cabelo tão giro que lembrava o cabelo de um EMO.

Da sua triste alma surgiam melodiosas palavras que antes de ecoarem na minha mente, faziam bater o meu coração muito mais forte. A ansiedade era incontrolável (Like Usually).

Ele fazia-me feliz e transmitia-me alegria e eu nem sabia porquê! Era uma sensação simples, mas mais que fantástica.

Foram tantas as tardes a observá-lo no parque abandonado e degradado da cidade.

Todos os dias, sentado no velho banco, que perdia a pouca cor que ainda tinha, onde a tarde se confundia com a noite, o rapaz tocava na sua guitarra notas que soavam tristes, lentas e calmas. Elas entravam facilmente na cabeça.

Queria dizer-lhe o quanto me fascinavam as suas musicas, mas escondida por baixo do enferrujado escorrega, a vergonha falava mais alto … Mas naquele fim de tarde foi diferente.

Ele debruçou-se para a frente, os seus belos cabelos caíram sobre a guitarra mas ela caiu, e partiu-se em dois tal como o meu coração, pois não gostava de o ver assim. Ele levantou-se começou a chorar mas as lágrimas confundiam-se com a chuva, levou as mãos à cara e voltou a sentar-se no banco encharcado.

Fui ter com ele pois era agora ou nunca.



- Só pensei que precisavas de ajuda – disse-lhe eu.



Não disse mais nada e ele também não . Sentei-me ao seu lado e suspirei. O silêncio dele matava-me lentamente. O desespero falava cada vez mais alto, acabando por me fazer deixar cair, uma descuidada lágrima. Limpei-a rapidamente, julgando que ele não se tinha apercebido de nada, mas tinha-me enganado. Quando desviei os olhos em sua direcção, reparei no seu olhar curioso fixado em mim. Não fui capaz de dizer uma única palavra, limitei-me a desviar o olhar para a frente.

Temia que o silêncio constrangedor continuasse, mal ele tinha decidido acabar com ele dizendo:



- Obrigado … Por teres pensado que eu precisava de ajuda. Sabes és a primeira pessoa que em muito tempo, se preocupa comigo.



E de repente abraçou-me, e foi como se já nos conhecêssemos à muito.



Levantou-se e esticou a sua mão esquerda, peguei nela e fomos os dois de mão dada, por uma rua assustadora, mas o simples facto de estar ao lado dele não me deixava ter medo de nada.




- O meu nome é Francisco, e tu como te chamas? – Perguntou-me ele.

- Lisa – Respondi eu.



Avançamos alguns passos, e quando demos por nós, no meio de tanta conversa e sorrisos, estávamos diante de um enorme labirinto, de ruas que nunca tinha visto antes. Observei-o por instantes, contemplei o seu olhar distante e distraído, que brilhava enquanto via cada pormenor das nuvens cinzentas. Não fui capaz de estragar o momento, e fiz o mesmo, observei aquele céu.

De repente tanto eu como o Francisco tivemos a sensação de estar a cair no infinito, um infinito de imensa escuridão. Como medo de nos separarmos demos as mãos.

Quando demos por nós, acordámos os dois no banco do jardim ao ouvir o belo canto dos pássaros. Trocamos mail’s, e cada um foi para sua casa. Como despedida ele deu-me um beijo, sem depois dele (do beijo) me olhar nos olhos.

Assim que cheguei a casa reparei que não estava ninguém, subi as escadas em direcção ao meu quarto liguei o computador e fui tomar banho.

Depois do banho vesti-me, liguei o MSN e já lá estava, o convite do Francisco aceitei e combinamos encontrar-nos atrás do escorrega.

Fui logo a correr até que apareceu um grande grupo de rapazes que começaram a formar um circulo á minha volta, deixando-me completamente sem saída, quando um dos rapazes diz:



-Uuuu, estás assustadinha ?



E todos os outros soltaram uma risadinha estúpida. Não pronunciei nenhuma palavra e continuei a procurar um sítio por onde escapar. Havia um espaço entre dois rapazes suficientemente espaçoso para eu passar, mas tinha de ser rápida. Enquanto eles mandavam palavras sem sentido ao ar, eu ganhava coragem para correr pela minha vida. De repente, vi-o a passar. Era ele mesmo, o Francisco que devia ir a caminho do escorrega. Pensei em gritar, mas eu não queria envolve-lo. Respirei fundo e corri o mais que pude. Quando estava prestes a passar, sinto um dos rapazes a puxar-me o braço com imensa força. Soltei um grito de dor e as lágrimas caíram. O Francisco, de longe avistou-me, e correu até mim.




- VAI-TE EMBORA, VAI-TE EMBORA.



Eu gritei tantas vezes o mesmo, mas ele continuava a vir em minha direcção. Por mais que eu quisesse ajuda, eu sabia que ele só se ia magoar.




- VAI-TE EMBORA, EU ODEIO-TE NÃO ENTENDES ? – Gritei eu, na esperança que ele ao sentir-se magoado fosse embora.

Mas tinha-me enganado profundamente. O Francisco, parou, olhou para baixo e correu com toda a força que tinha. Eles eram muito mais que ele, e com a certeza de que aquilo iria acabar mal, decidi fugir e procurar ajuda.

Cheguei à esquadra da policia, tentei explicar tudo o mais simples possível e com rapidez.

Enquanto alguns tentavam contactar os pais do Francisco, outros foram comigo.

uando chegámos lá o Francisco estava repugnante, deitado no chão coberto por um “lençol” de sangue.

Chamaram imediatamente uma ambulância e eu fui para casa, fazer uma coisa que nunca tinha feito antes rezar por alguém, sim eu fui orar pelo Francisco. Nunca na minha vida ninguém me tinha feito acreditar em algo, mesmo sem saber, ele tinha mudado a minha vida.

No dia seguinte, fui ver o Francisco, pois queria saber como ele estava, e afinal de contas devia-lhe um pedido de desculpas.

Assim que lá cheguei uma enfermeira veio ter comigo, com um ar não lá muito bom e entregou-me um pedaço de papel de caderno onde dizia:




Tu eras a minha única razão de viver, a pouca cor que a minha vida tinha ganho, Fizeste-me sorrir quando a minha vontade era chorar. Porque me odeias? Não soube, mas também já não virei a saber. Vou-me embora deste mundo, e junto levo comigo todo o amor que nasceu, e tu matas-te com uma única e simples palavra, " Odeio-te".





Ao ler aquelas palavras, percebi logo o que a enfermeira não me conseguiu dizer. Ela não me conseguiu dizer que o Francisco se tinha suicidado.

Entrei em pânico corri até ao parque enquanto chorava e (...)

(...) e ainda hoje se pode ver no velho parque as marcas do sangue da Lisa e a guitarra partida do Francisco.

Escrito por mim e pela minha amiga Rita.

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